Belarus, um país de 9,5 milhões de habitantes incrustado entre Rússia, a leste, e União Europeia, a oeste, é palco de protestos de manifestantes que rejeitam o resultado das eleições e tentam se desvencilhar de seu ditador, Alexander Lukashenko. Enfrentaram sem medo a polícia, guiados pela indignação com o resultado que, segundo a autoridade eleitoral, deu a sexta vitória ao presidente há 26 anos no comando, com 80,23% dos votos.
Os opositores contestam a apuração e o desempenho da principal adversária do ditador, Svetlana Tikhanovskaya. Ela teria obtido apenas 9,9% dos votos e refugiou-se na Lituânia. Nesse roteiro previsível de eleição fraudulenta e sem observadores, o presidente russo, Vladimir Putin, correu para congratular Lukashenko, que ostenta o título de último ditador europeu, para tentar expandir sua influência e reforçar os laços com o país vizinho.
A relação entre Rússia e Belarus é estreita e ao mesmo tempo conturbada. Foi calorosa nos primeiros anos, após a desintegração da União Soviética, há quase 30 anos.
Com forte aparato repressor, Lukashenko sufocava opositores e se vangloriava de manter o país estável, longe das turbulências de outras ex-repúblicas. Com o passar dos anos, o relacionamento esfriou, sobretudo depois de 2014, quando Moscou anexou a Crimeia e enviou tropas ao leste da Ucrânia.
Durante esta sexta e tensa campanha eleitoral, o ditador alertou que Belarus poderia também perder a independência e ser absorvida pela Rússia, caso não fosse reeleito. Os dois países estão ligados pelo idioma e pela cultura, mas, no entender de Putin, poderiam ser mais do que isso, viver em estado permanente de união -- proposta rejeitada pelo ditador.
Belarus depende do gás e do petróleo russo subsidiado, mas Moscou vem restringindo o fornecimento a seu vizinho aliado para pressioná-lo para uma fusão entre os dois países. Lukashenko chegou a ameaçar extrair o petróleo russo do oleoduto que atravessa seu território e revendê-lo a outros mercados para não ter que se ajoelhar diante de Putin. Recentemente, vem expandindo vínculos com os EUA.
Lukashenko soube manipular a rivalidade entre Rússia e potências ocidentais para aferrar-se ao cargo. Até a pandemia de Covid-19, que ele negou insistentemente, oferecendo receitas caseiras, como vodca e sauna, para combater o vírus. Não funcionou para o autocrata, que acabou infectado, assim como para os 70 mil compatriotas que contraíram o coronavírus.
A pandemia virou o jogo contra o ditador e estimulou seus opositores a burlarem a repressão para desafiar abertamente o regime. A imagem de liderar uma ilha de estabilidade, vendida insistentemente por Lukashenko, envelheceu e não convenceu eleitores. Nem a sua tese de que os protestos pós-eleitorais são conduzidos por “ovelhas manipuladas no exterior”.
Agora é saber como Lukashenko sai dessa jornada eleitoral. Se ainda tem forças e apoio suficiente das forças de segurança para domar os manifestantes. Ou se terá que se ajoelhar diante de Putin, que rapidamente respaldou o resultado eleitoral de domingo.
Por G1