Emerson Maia morreu: o Leão da Baixa

Emerson nasceu em Parintins e estudou em Belém. Quando retornou à ilha, muito jovem, seu pai era padrinho do Garantido. Não demorou para paixão tomá-lo

Emerson Maia morreu: o Leão da Baixa Notícia do dia 14/08/2020

Homenagem da Jornalista Chris Reis ao grande Emerson Aguiar Maia, falecido na madrugada desta sexta-feira, dia 14 de Agosto de 2020, no Hospital Getúlio Vargas, em Manaus. O compositor Emerson Maia tinha 66 anos e desde mês de julho vinha lutando contra problemas pulmonares. 

“Essa entrevista tive o prazer de fazer, com ele, para um livro que não vingou, mas esse é só um "detalhe". Que sua passagem seja de luz!"

O “Leão” da Baixa 

“Leão” e  “Indião” são os apelidos carinhosos que os amigos chamam o grande (tanto em talento como em tamanho) Emerson Maia, considerado um dos maiores, se não, o maior compositor da história do boi bumbá Garantido. São décadas de contribuição à poesia da Baixa. 
Ao encontrá-lo, no seu “habitat natural”,   numa tarde, a beira do rio Amazonas, na Baixa do São José, cercado de amigos, do filho e do sobrinho, além é claro, do inseparável violão, Emerson responde a cada indagação tocando as inúmeras toadas do seu vasto, I-N-I-G-U-A-L-Á-V-E-L e indefectível repertório. 
Numa simplicidade tocante, aponta para o imensurável rio a nossa frente e diz que é de lá que vem sua inspiração para compor. Emerson canta a vida do caboclo, a natureza, mulheres e o amor pelo boi Garantido. Sua música tem poesia singular e não deixa ninguém incólume quando começa a tocar o violão e a cantar. 
Apesar da maioria conhecer a toada “Lamento de raça”, muito cantada em tantos festivais, sua predileta é “Pura Harmonia”, que interpreta com lágrimas nos olhos. “Tenho coisas muito antes e além de Lamento de Raça”, sentencia.
“O meu lado de índio, é o melhor que eu tenho. É o meu lado moreno. É o meu lado de amor. Sempre em paz com a mata, a beleza da garça...”
Como ele mesmo fala e os amigos confirmam, Emerson é um homem muito sensível, de choro fácil. A toda hora abraça e declara amor ao filho e aos amigos. “Sou chorão mesmo. Choro por tudo”, diz com as lágrimas caindo. E lá vem toada “Sentei juto ao pé da roseira. Lembrei minha infância, fogueira e balão...lembrei do meu pai, meu amigo, esperando ansioso o meu boi Garantido...”
Lembra com saudades da época que era levantador do Garantido e recorda o momento mais emocionante que viveu na arena, segundo ele mesmo. “Na inauguração do bumbódoromo, entrei  e tinha apenas um feixe de luz em cima de mim. A Batucada entrou no escuro. Pedi para acender as velas, que eram para o momento do ritual, e comecei a cantar....`eu brinco boi, como brinca uma criança, papel de seda na ponta da lança...`, composição de Fred Góes. Foi muito bonito”, recorda emocionado.
Emerson nasceu em Parintins e estudou em Belém. Quando retornou à ilha, muito jovem, seu pai era padrinho do Garantido. Não demorou para paixão tomá-lo. “Já era músico e me identifiquei com a cultura de Parintins. Nem tenho como explicar esse amor”, constata, recordando que já quis matar pelo boi ( e não é no sentido figurado), porém, diz que isso é passado e como tudo, as brigas nos bois tiveram que ter uma medida e agora é algo respeitoso.
“..Ah eu amo esse lugar. De um povo alegre, vermelho e branco que vive a sonhar...”
Depois seguiu tocando e cantando ao sabor dos seus maiores patrimônios: seus filhos, amigos, o rio Amazonas, o Garantido e sua amada Parintins. 

* Por Chris Reis numa entrevista feita no “Bar do enrola” na Baixa do São José, num final de tarde qualquer, ao som de muitas toadas e cervejas, misturada a risos e lágrimas, quando ele cantou uma toada pra mim.