Todos os anos, no dia 6 de outubro, conto a mesma história e assim será por toda minha vida.
Foi o 6 de outubro que começou como uma dia feliz em família e terminou com uma perda que até hoje marca a vida da nossa família.
Era um domingo e, aos domingos, o meu pai sempre acordava muito cedo e ligava o som da sala para nós acordar ao som de Roberto Carlos, Maria Betânia ou Chico da Silva.
Seria um domingo em família (meu pai presava muito isso) e com os amigos de igreja. Meu pai decidira que dessa vez não iríamos de carro para compartilhar a convivência com outras famílias no ônibus que levaria todos a confraternização do Encontro de Casais com Cristo -ECC da Paróquia Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos.
Começou o futebol e eu, uma menino de 12 anos, sentei no chão de areia a beira do campo para assistir orgulhoso aquele zagueiro grande e desajeitado.
De repente, meu pai sai do campo ofegante e diz: “filho chame a sua mãe que eu estou passando mal”. Corri chamando pela minha mãe.
Quando voltei já havia desespero - são vagas minhas lembranças e como criança não conseguia chegar perto - lembro que carregaram meu pai desfalecido e talvez tenham molhado-o no igarapé.
Levaram-o de alguma forma que depois soube teria sido no carro do seu amigo Fernandão (ex-prefeito de Figueiredo).
Desnorteada, minha mãe, eu, Umberto (9 anos), Glenda (6 anos) e Rodrigo (3 anos) fomos levados para a casa da família Cordeiro (amigos sempre presentes nas nossas vidas).
Posso agora fechar os olhos e lembrar quando tio Aldenor chegou e nos seus olhos eu já podia saber a notícia. Meu pai não chegou ao hospital após um infarto fulminante.
Não recordo a reação dos meu irmãos. Eu, mesmo uma criança, mas como filho mais velho, abracei minha mãe, desesperada, e disse: “calma, mãe, eu estou ao seu lado e vou te ajudar”, mesmo sem ter nenhuma noção do que isso significava.
Ainda vi meu pai no antigo necrotério do Hospital Getúlio Vargas que era uns prédios redondos bem próximos a calçada pela Avenida Boulevard.
No velório, no enterro e por muito tempo não chorei na frente da minha mãe. Ela precisava de mim.
E aquele dia 6 de outubro me mostrou que as coisas do amor precisam do agora porque as vezes não têm amanhã.
Sinto saudades todos os dias da minha vida pelos últimos 35 anos que se completam hoje. Saudade boa. Saudade de quem aprendeu com a perda e procurou se tornar um ser humano melhor. Saudade que tempera o coração e alma pra dar todo amor aos que ficaram. Saudade que guarda na lembrança o amor e o exemplo que foram eternizados em minha vida.
O meu pai é a prova de que alguém pode passar rápido na nossa vida, ir sem nenhum preparo, mas ser eterna presença. Meu pai é eterna presença em mim.
Pai, você está na minha mãe, em mim, nos meus irmãos e nos seus netos. Está em amor e paz. É a sua presença que nos fortalece e nos guia pelo caminho do bem.
Fica em paz, meu velho Umberto.
Autor: Marcelo Ramos Deputado Federal do PL