A Beatriz de Glória Pires é uma peste, e só a mãe, Estela, na voz de Nathália Timberg, não se dá conta disso.
Aliás, para ser uma peste, Beatriz teria de nascer de novo. Enquadra-se em uma categoria sem classificação. Seduz o motorista do ricaço, aproxima-se da mulher dele, moribunda em coma, finge ser amiga, seduz o viúvo e mata quem a chantageia.
Estamos só no primeiro capítulo.
E nem falamos ainda do melhor, que está por vir: Adriana Esteves, a medíocre Inês, invejosa, recalcada, gente que quer brincar de bandido, mas nem isso consegue fazer bem.
Glória Pires é quem guia a história, puxa todo o fio da meada que vem aí pelos próximos seis meses, mas é Adriana Esteves quem engole a cena.
Assim é Babilônia, nova novela das 9 da Globo, de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga.
A doçura de Camila Pitanga, representante da honestidade no enredo, é peça chave para que o espectador se valha de mais indignação diante da dupla do mal. Em uma única personagem, os autores pincelaram o drama do transporte público, da saúde e da educação no Brasil. Regina, batismo de Camila na ficção, é uma escada para aumentar o brilho de Adriana e Glória, mas não se conforma com a condição de mocinha inútil, à medida que serve de porta-voz para as queixas da maioria da população da vida real.
Perto de Beatriz, Maria de Fátima Acioli e Rachel, duas das malvadas já defendidas por Glória Pires, são a madre Teresa.
Perto de Carminha, Inês é uma pobre coitada, incompetente até para fazer o mal.
Companheira de Estela, Tereza, papel de Fernanda Montenegro, tenta carinhosamente prevenir a outra de que Beatriz é assim, digamos, um pouco ambiciosa. Mas sabe que a enteada é boa bisca.
A edição é ágil, a narrativa não joga diálogos fora – o que pode até acontecer no decorrer da novela, mas não num capítulo de apresentação do enredo – e a direção de Dennis Carvalho é precisa, até quando uma câmera persegue Fernanda e Nathália de costas, no quarto.
Ah, sim, até para frear essa torcida do beija-não-beija, as duas já trocaram mais que um selinho nesse capítulo inicial. Também não chegou a ser “chupão”, só para usar aqui um termo citado por Gilberto Braga.
Boas frases no capítulo 1:
* “Os outros engenheiros com certeza fazem caixa 2. Todo mundo faz” – Inês para o marido, Homero (Tuca Andrada)
* “Só para os muito ricos existe Justiça neste país” – Idem
* “Que ano pode ser bom se começa brindando com Cidra?” – Idem
* Você deve ser a única carioca que não sabe que ‘passa lá em casa’ é sinônimo de ‘nunca’!” – Beatriz para Inês
* “Ele tem os problemas que todo empregado tem. Hoje mesmo inventou que a mulher tava doente e faltou ao trabalho” – Evandro (Cássio Gabus) para Beatriz.
Só para registrar: a Globo bancou 49 minutos de novela sem intervalo comercial. Foi o primeiro bloco, que foi das 21h19 às 22h08. O capítulo acabou às 22h48, totalizando quase 1h30 de novela./// CRISTINA PADIGLIONE Estadão