Projeto Fitoterápicos, promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, com apoio técnico do Ministério do Meio Ambiente, ajuda organizações da região amazônica a ampliar a oferta de produtos feitos com plantas medicinais e a proteger área de 5 milhões de ha – a perspectiva é gerar 2 milhões de reais de faturamento, ano, para as associações que atuam com cadeias de plantas nativas brasileiras.
A ajuda estava ao lado, próxima, na floresta amazônica. Era unir o conhecimento dos antepassados, tão sábios em plantas medicinais, usar de forma sustentável o óleo da andiroba, da copaíba, o breu branco, a fava para produzir sabonetes, unguentos, repelentes. Aliviar a dor, cicatrizar, curar feridas, evitar picadas. Cuidar e deixar as árvores nativas em pé, ganhar dinheiro escasso naquele tempo em que o garimpo ilegal havia sido fechado, em 2009, e de onde saía o sustento dos ribeirinhos do rio Araguari, no Amapá. “Os moradores ficaram sem renda. Uma pesquisadora identificou que havia muita andiroba na região e perguntou por que a gente não vendia o óleo? Na época, não ficamos animados, mas depois fomos buscar parcerias”, lembra Arlete Pantoja Leal.
Em 2012, criaram a Associação Bom Sucesso, em Porto Grande, e logo viram-se com pouco espaço para o trabalho das mulheres. Então, resolveram fundar a Associação das Mulheres Extrativistas Sementes do Araguari, organização da qual hoje Arlete é presidente e onde elas predominam. São 41 mulheres ao lado de seis homens. Conseguiram ajuda financeira e técnica, vendem seus produtos - sabonetes de andiroba, copaíba, de fava e esfoliante de breu branco; unguentos de gergelim e de andiroba; e vela de andiroba (repelente natural) - em Macapá, São Paulo, e Belo Horizonte. Vão da cura de manchas, de espinhas, de micose a anti-inflamatórios.
Conseguiram reconhecimento. Estão entre as quatro organizações de agricultores familiares e extrativistas dos estados do Pará e Amapá selecionadas pela SOS Amazônia para participar do Projeto Fitoterápicos, implementado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), sob coordenação técnica do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Nele, estão previstas ações de diagnóstico, capacitação e fomento para que estas instituições, do bioma amazônico, possam superar as dificuldades que as impedem de mostrar seu potencial de produção sustentável a partir de plantas medicinais nativas e derivados.
Como subvenção, cada uma das organizações vai receber US$ 50 mil. Uma ajuda e tanto para a Associação das Mulheres Extrativistas Sementes do Araguari. “Estes recursos vão quase concluir a estrutura do laboratório, para aumentarmos a produção”, informa Arlete Pantoja Leal. O objetivo é ampliar a oferta de produtos -, incluir creme de andiroba, inovar, vender mais. “A gente tira da floresta, sem destruí-la.”
Com o programa Fitoterápicos, as instituições vão expandir as possibilidades de acesso ao mercado, segundo o ecólogo Adeilson Lopes, coordenador do Programa Negócios Florestais Sustentáveis da SOS Amazônia, instituição escolhida para gerir o projeto na região. Ele prevê faturamento de R$ 2 milhões ao ano para estas organizações com as cadeias de plantas medicinais. Além disto, vão ajudar, e muito, na proteção ao meio ambiente.
“As organizações locais apoiadas, cada uma com sua especificidade, confrontam o atual modelo predatório que impacta negativamente o bioma amazônico e apresentam alternativas de regeneração ou manutenção das paisagens florestais da região, podendo impactar positivamente uma área correspondente a 5 milhões de hectares sobre as quais possuem algum tipo de governança”, afirma Adeilson Lopes. Ele argumenta que, a partir do aproveitamento do potencial das plantas medicinais, as instituições promovem cadeias de valor que combatem a pobreza e promovem a valorização e o engajamento feminino e de jovens em atividades produtivas sustentáveis.
O ecólogo lembra que é a “economia da floresta em pé” na prática. Ele vê como o único caminho viável para o enfrentamento ao desmatamento e às mudanças climáticas globais que ameaçam não apenas o futuro da maior floresta tropical do mundo, como também a segurança climática de todo o planeta. De acordo com ele, são 265 pessoas diretamente envolvidas nas cadeias de plantas medicinais, sendo 116 mulheres.
Elas dominam também a produção de óleo de andiroba de qualidade, pureza e origem certificada na comunidade São Domingos, em Belterra, no Pará. “Fazemos sabonetes e velas. Estamos agora trabalhando também com o cumaru e pretendemos estender para o piquiá e a copaíba”, diz Amanda Caroline Dias Paz, presidente da Cooperativa Renascer, que faz parte da Federação das Organizações e Comunidades Tradicionais da Floresta Nacional do Tapajós. Todas com poderes terapêuticos, há muito tempo conhecidos pelos moradores da região.
“A gente acredita no potencial medicinal das plantas. Se ficou doente, gripado, faz banho. O óleo de andiroba serve para massagens, dores musculares, repelentes”, conta Amanda Paz. Esse conhecimento tradicional, vem dos antepassados, transmitido de geração para geração. “E assim vai seguindo...” Cuidando da floresta e da saúde. “Quase todas as famílias da comunidade trabalham com plantas medicinais.” E acredita que continuará, mais ainda, com o apoio do Projeto Fitoterápicos.
A Cooperativa Mista dos Agricultores Familiares e Extrativistas dos Caetés (Coomac), em Bragança (PA), está se preparando para reativar sua usina de óleo de andiroba com a compra de equipamentos que vão melhorar a qualidade do produto. “Hoje, fazemos o óleo de andiroba em casa ou vendemos a semente”, diz João Nelson Pereira Magalhães, gerente social da cooperativa. O foco é ampliar para o óleo de buriti e de mururu, a manteiga de tucumã e de bacuri e dar renda para os integrantes da Coomac, que tem entre eles 55 mulheres, 11 idosos e 15 jovens.
Também será beneficiada a Cooperativa Alternativa Mista dos Pequenos Produtores do Alto Xingu (Camppax), em São Felix do Xingu (PA), que comercializa folhas secas de jaborandi. “Vamos adquirir triciclos com carroça para transportar as folhas e facilitar a colheita. Hoje, é um trabalho muito difícil, uma luta”, diz Raimundo Freires dos Santos, presidente da Camppax. Os folheiros de jaborandi, como são conhecidos, ficam de 20 a 30 dias na floresta em barracas improvisadas, carregam o que colhem nas costas por 4 a 5 km. “Vivemos disto.”
Mais sobre o Projeto Fitoterápicos
Implementado pelo PNUD, sob a coordenação técnica do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, o projeto fortalecerá o setor de plantas medicinais e fitoterápicos, com base no uso de espécies nativas brasileiras. São beneficiados quatro biomas: amazônico, caatinga, cerrado e mata atlântica.
No amazônico, foram selecionadas quatro organizações:
● Associação das Mulheres Extrativistas Sementes do Araguari na Floresta Nacional e Floresta Estadual do Amapá - Município de Porto Grande (AP);
● Federação das Organizações e Comunidades Tradicionais da Floresta Nacional do Tapajós , na Floresta Nacional do Tapajós/Comunidade São Domingos - Município de Belterra (PA);
● Cooperativa Alternativa Mista dos Pequenos Produtores do Alto Xingu, na APA Triunfo do Xingu - Município de São Félix do Xingu (PA);
● Cooperativa Mista dos Agricultores Familiares e Extrativistas dos Caetés, no Município de Bragança (PA).
Cada uma vai receber US$ 50 mil (exatos R$271.450,00) de subvenção e assessoria técnica.