A Polícia Federal tem provas de que a lavanderia de dinheiro do doleiro Alberto Youssef – peça central da Operação Lava Jato – foi usada pelo ex-deputado federal do PT André Vargas (sem partido-PR), entre 2013 e 2014, para o recebimento de R$ 2,3 milhões em dinheiro vivo de uma empresa com contratos no governo federal.
São notas fiscais, registros de depósitos e trocas de e-mails envolvendo a contadora do doleiro, Meire Pozza, e a IT7 Soluções – contratada da Caixa Econômica Federal, do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), vinculado ao Ministério da Fazenda, e outros órgãos de governo.
A força-tarefa da Lava Jato tem elementos para acreditar que a IT7 – que tem escritório no Paraná e é administrada por Marcelo Simões – era usada pelo ex-deputado e seu irmão Leon Vargas para recebimento de propina em contratos do governo federal.
Vargas e Leon foram dois dos sete presos nesta sexta-feira alvos da nova etapa da Operação Lava Jato, batizada de A Origem. A sede da IT7 alvo de buscas.
Um dos documentos em poder dos investigadores são as duas notas fiscais emitidas para a IT7 em nome de duas empresas (Arbor Contábil e AJJP Serviços Educacionais) da contadora do doleiro, ambas no dia 27 de dezembro de 2013.
Uma é de R$ 964 mil e outra de R$ 1,4 milhão. Em depoimentos à Polícia Federal, a contadora e o doleiro afirmaram que as foram por serviços nunca prestados, servindo apenas para “esquentar” a retirada do montante.
As versões da contadora e do doleiro – que está preso desde março do ano passado – são coincidentes. Eles afirmam que foi o irmão de Vargas que pediu, no final de 2013, que fosse disponibilizado R$ 2,3 milhões em dinheiro.
Por ordem de Youssef, Meire emitiu então as notas, recebeu e sacou os valores para serem disponibilizados em dinheiro vivo para Vargas, entre janeiro e fevereiro de 2014. Nessa época, ele era vice-presidente da Câmara dos Deputados e secretário de Comunicação do PT.
Foram anexados ao pedido de prisão de Vargas e Leon, além das notas, as trocas de e-mail em que Leon e Simões indicam a IT7 para emissão das notas fiscais para a contadora do doleiro.
A contadora e o doleiro não souberam dizer, nos depoimentos, qual a origem do dinheiro da IT7. Meire identificou três transferências eletrônicas bancárias, nos valores de R$ 964,3 mil, R$ 287,1 mil e R$ 1,1 milhão, como sendo relativas a operação para Vargas.
O sistema usado para disponibilizar o dinheiro para o ex-parlamentar seguiu a mesma dinâmica da lavanderia que permitiu que bilhões fossem desviados da Petrobrás – foco inicial da Lava Jato – entre 2004 e 2014, explicou Meire.
“Há prova de que Youssef providenciou, em dezembro de 2013, o repasse de R$ 2,3 milhões em espécie a André Vargas, numerário este proveniente de empresa que mantém vários contratos com entidades públicas”, registrou o juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato, ao determina prisão preventiva de Vargas.
Segundo ele, a entrega dos valores em dinheiro foi possível “mediante emissão de notas fiscais fraudulentas por serviços que não foram prestados.”
Por essa movimentação suspeita, Vargas e seu irmão podem virar réus da Lava Jato por corrupção e de lavagem de dinheiro.
Receita. A IT7 hoje tem novo nome, CMSD Tecnologia Ltda, após alteração em seu registro, em fevereiro deste ano.
Relatório da Receita Federal mostra que a IT7 declarou receita de R$ 125 milhões entre 2012 e 2013.
O órgão aponta “expressiva movimentação comercial e bancária” e diz que ao analisar as fontes pagadoras da empresa é possível observar que entre os principais clientes estão “entes públicos, empresas públicas e estatais federais e estaduais”.
COM A PALAVRA, A DEFESA
Os advogados de André Vargas e seu irmão Leon Vargas negam qualquer irregularidade. A defesa deve entrar nesta segunda-feira com pedido de soltura dos investigados. Nenhum representante da IT7 e de Marcelo Simões foram encontrados.
//Por Fausto Macedo, Julia Affonso e Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba através do Estadão