A arte como libertação pessoal e como contribuição na libertação social. São olhares e traços deixados por participantes, a maioria mulheres, do Curso de Pinturas em Tecidos promovido pelo Centro de Educação Tecnológica do Amazonas - CETAM, em parceria com a Associação dos Moradores do Bairro Itaúna 2. A exposição de encerramento do Curso acontece na manhã desta sexta-feira, 27, no espaço da AMBI-2, ao lado da Delegacia de Polícia.
Foram três semanas de aulas ministradas pelo professor José Ribeiro Neto, o professor Zezinho. Aos 47 anos, mais de 30 em experiências nas artes plásticas, Zezinho aponta o curso e a participação das mulheres, e apenas um homem, como “perspectiva de transformação. Das mulheres, do cidadão, até de formação de pessoas através da arte”.
Para Ele, “a arte transforma, leva conhecimento, a mente flui... é a criatividade, as técnicas contribuindo na evolução da mente e das ações através dos traços. Foi muito bom, muito proveitoso o nosso curso”, afirma o artista professor.
A produtora de biojoias, Patrícia Leal Costa, 41 anos, diz que “na arte me sinto livre. A gente faz qualquer coisa que imaginamos no nosso mundo, na natureza, como ela está sendo prejudicada pelos homens, pelas queimadas. Refletimos sobre o que está havendo com o ser humano e a mente voa. Pra mim, a arte é salvação da nossa imagem, das mulheres, dos animais; a arte para mim é tudo”.
Em mais de vinte anos produzindo arte, Patrícia pontua que seu trabalho sempre foi voltado para as plantas, para artes com as sementes. “Descubro várias coisas, beleza, o que tem nas plantas, nas matas, tudo que eu penso, é a minha experiência, o meu dom”, afirma a artista. Em 28 anos de trabalho com artes em biojóias, Patrícia começou praticar nas plantas. “Adoro ver sementes, qualquer tipo de semente”, diz.
Pintura em tecido foi a primeira experiência vivida pela artista no curso oferecido pelo CETAM e a AMBI 2. “Já participei de vários cursos, mas com pintura foi minha primeira vez. Eu imaginei muitas coisas, assim como outras participantes. Pensei que só eu era assim, mergulhada na natureza e também na luta das mulheres”, afirma.
Ampliação de Horizontes
Outra que faz da arte seu meio de vida e concluiu o curso é a artista Elisângela Lopes Salgado, 42 anos. “Foi um aprendizado maravilhoso na minha vida. Trabalho com artesanato e sempre é muito bom a gente aprender novas formas de fazer artes. Era uma coisa que sempre eu queria aprender. E graças a Deus consegui, com a ajuda do meu professor, das minhas colegas”, pontua.
Elisângela considera que o aprendizado “é uma algo que eu vou levar pro resto da minha vida. Essa foi uma maravilhosa produção profissional. A arte contribui em tudo na minha vida. A arte é a melhor coisa que acontece na minha vida. Criei os meus filhos através da arte, através do artesanato. E agora a pintura vai contribuir, com certeza, contribuir mais ainda, entendeu? Eu vou poder pintar uma camisa, pintar um chapéu, uma bolsa, um short. Pra mim, é maravilhoso”, conclui.
Incentivo
Único homem na turma, o acadêmico Wesley Andrade, do segundo período do Curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Amazonas fala em ampliar conhecimentos para dividir ideias de artes na comunidade e na academia. “De repente, conviver com essas mulheres e dividir com elas esse espaço e, acima de tudo, dividir as ideias de artes. É muito gratificante conhecer novas pessoas e aprender um pouco mais sobre pintura e outros conhecimentos que a arte traz”, salienta.
Wesley diz que o curso foi “a primeira experiência de pintura que teve. É um grande incentivo, ainda mais olhando minhas colegas que já tinham conhecimento. Isso me incentiva ainda mais como acadêmico do curso de artes visuais da UFAM. Foram momentos de compartilhamento e aprendizado. Aprendi muito com elas”, comenta.
Além das Gaiolas
Na visão da Educadora Popular Fátima Guedes, “nesse momento em que a gente vive uma realidade tão distante da poesia, tão distante da sensibilidade, o Curso de Pintura em Tecido chegou como uma terapia. Uma terapia de libertação. Uma terapia de relaxamento e ao mesmo tempo, de despertar da autonomia das mulheres, porque, a princípio, as mulheres estavam sempre preocupadas em pintar guardanapos e, a partir deste curso, fomos entendendo que a arte é libertária”.
Guedes sugere “sair da senzala doméstica e começar a pintar alegria, pintar vida, pintar libertação manifestada nas nossas roupas, nos nossos adereços. É inventar coisas que sensibilizem outras mulheres, sensibilizem homens também para entenderem que a arte que as mulheres produzem tem uma linguagem que fala de amor, que fala de sensibilidade, que fala de libertação. Uma linguagem que nos permite voar além das gaiolas e ganhar o infinito. O curso trouxe para mim esta percepção”.
Por Floriano Lins