
Em Parintins, o trânsito tem causado muitas vítimas, especialmente entre os jovens. Como profissional da área, com formação como instrutor de trânsito, examinador, diretor para Centro de Formação de Condutores e pós-graduado em Gestão e Direito de Trânsito, observo que uma combinação fatal contribui para os altos índices de acidentes nas nossas vias: a falta de conhecimento sobre a legislação de trânsito. Muitos dirigem sem ter passado pelo treinamento adequado, conforme exige o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Embora ter habilitação não garanta a eliminação dos acidentes, é certo que um treinamento apropriado proporciona aos motoristas uma compreensão diferenciada sobre como lidar com as situações no trânsito.
Por experiência como instrutor de legislação de trânsito, frequentemente ouço alunos surpresos ao descobrir que estão dirigindo de forma inadequada. Isso se relaciona tanto ao aprendizado teórico quanto ao treinamento prático, que complementa o que é ensinado em sala de aula. Recentemente, nossa empresa realizou um teste social que evidenciou uma peculiaridade em Parintins: muitas pessoas dirigem sem habilitação. Em dias de aula na autoescola, é comum ver um grande número de veículos estacionados em frente. Para quem não conhece a cidade, pode parecer estranho que as pessoas estejam na autoescola para obter a habilitação e cheguem dirigindo.
Entendendo nossa cultura — pois o trânsito também é uma cultura — decidimos aplicar um simulado da prova de legislação no primeiro dia de aula, já que 90% dos alunos chegaram dirigindo. Realizamos 105 simulados entre as turmas da manhã, tarde e noite, e o resultado foi alarmante: apenas 10 alunos conseguiram passar. Os outros 95 demonstraram praticamente nenhum conhecimento sobre a legislação de trânsito e não sabiam como se comportar conforme o CTB.
Além disso, os órgãos competentes, tanto da prefeitura quanto do estado, têm sua parcela de responsabilidade na falta de sinalização eficiente em Parintins. Muitas placas estão mal posicionadas ou inexistem. Falta também campanhas de educação e conscientização no trânsito. O órgão municipal responsável está incompleto; não há JARI (Junta Administrativa de Recursos de Infrações), perícia nem engenharia de trânsito — elementos essenciais para um bom funcionamento do sistema. As operações parecem ocorrer apenas após tragédias, quando alguém perde a vida.
É preocupante observar que as ações da EMTT (Empresa Municipal de Trânsito e Transporte) muitas vezes se assemelham mais ao trabalho da guarda municipal do que ao papel efetivo dos agentes de trânsito. Enquanto esses fatores persistirem, continuaremos a ver notícias tristes sobre mortes em acidentes nas nossas ruas. Todos somos responsáveis por nossos atos, mas a lei existe para promover uma sociedade mais justa e organizada.
Acredito que se tivermos mais viaturas da EMTT e agentes fazendo patrulhamento 24 horas por dia, sete dias por semana, poderemos reduzir essas estatísticas alarmantes em nossa cidade. Precisamos urgentemente unir forças — cidadãos e órgãos competentes — para enfrentar esse desafio juntos. Hoje mais uma família vai chorar por conta disso.
Autor: Neto Brelaz.