Ano novo exige Saúde

O que é significativo, no nosso presente argumento, é a necessidade de melhorar as capacidades críticas das pessoas e sua capacidade de reagir e transformar a sociedade. (Jaime Breilh)

Ano novo exige Saúde Democracia exige atitude: eleger o SUS nosso plano de Saúde! Foto: Floriano Lins Notícia do dia 27/12/2024

O novo ano bate à porta e propõe desafios em prol de transformações necessárias a um bem-viver universal. Não é tão simples, haja vista a contaminação das mentes com chavões mercantis religiosistas durante as festas natalinas. Em contraste à massificação, dados históricos milenares fundamentados em manuscritos matrifocais revelam que o tal anestésico fora injetado por processos colonizatórios, religiosistas/mercadológicos contaminando povos, comunidades, criminalizando a espiritualidade e festividades das antigas sociedades.

 

Por essa trilha, até hoje, século XXI, crescem romarias subservientes aos respectivos dogmas beneficiando grupos dominantes.

 

No sentido de reificar tais intenções e alcançar um maior número de analfabetizados político-sociais, o sistema midiático via efeitos entorpecedores anula a racionalidade, a reflexão crítica sobre a realidade e transforma povo em massa.

 

Considerando-se o processo em evolução do estado de embriaguez social, vale relembrar a Obra de Cláudio Quintino, “A Religião da Grande Deusa”*. Nas comprovações de Quintino, a data e a origem da celebração do nascimento de Jesus, 25 de dezembro, ditada pelo cristianismo, não condiz. O contexto foi adaptado da data festiva - o Solstício de Inverno-, no hemisfério norte, entre os dias 21 e 22 de dezembro, em que os povos celtas celebravam as mudanças das estações com cultos ao Rei Sol, à Deusa Terra: um festival dedicado aos deuses solares e da vegetação. Eram momentos de intensos diálogos de cuidados universais em defesa da vida entre os povos daquela região. Com o avanço do cristianismo, por volta do século VI d.C., Patrício, ex-escravo romano-galês, após converter-se ao cristianismo apropriou-se dos antigos cultos celtas transformando-os em rituais cristãos, conforme os impositivos católicos romanos. Por esse feito, Patrício foi canonizado. O culto, os rituais dos povos originários foram amordaçados e a verdadeira data do nascimento de Jesus, provavelmente setembro, é mantida em sigilo sob dogmas inquisidores.

 

Ainda que 25 de dezembro corresponda ao nascimento do Nazareno, comprovam-se escancaradas contradições entre os ensinamentos do Filósofo Cristão e o volume de abusos indiscriminados sem quaisquer problematizações e/ou intervenções da parte de lideranças religiosas e até mesmo políticas.

 

Em nome do Menino Jesus silenciam abusos de poder e de recursos públicos aplicados descaradamente em banquetes, decorações, luxúrias, viagens, queima de dinheiro com fogos de artifício, em shows importados, entretenimentos tendenciosos e outros mais.

 

A reboque, comprova-se o avanço da miséria, da violência incontrolada entre os próprios violentados; do adoecimento ancorado à fragilidade do sistema biomédico cartesiano em parceria com o mercado de planos de saúde, assim como, a total indiferença do Estado sobre as agressões ao Ventre Sagrado da Mãe Terra - Abrigo de todas as vidas: envenenamento dos biomas, das águas; o domínio do agronegócio via transgênicos, pulverização aérea e etc. O painel em questão, traz a Sabedoria do Pajé Jurismar*: “As doenças são resultado das maldades, ambições, conflitos e perversidades produzidas pelos humanos entre si e para com as outras espécies – das formigas às castanheiras. Assim, ferir a floresta, as plantas, os frutos, os rios, o ar e os bichos é violentar a si próprio... A natureza somos nós. Ela dá a vida e também a morte. Depende de nós”.

 

O grito por socorro retumba no céu da Mátria Brasileira!

 

A princípio e até em princípio, duas saídas podem fazer do apelo um “inédito viável*”: Educação Popular e a efetivação do SUS com “universalização, equidade e integralidade”, conforme aprovado em 1990.

 

2025 pede passagem! Quer algo novo, inédito! Algo que converta votos, desejos, sonhos em práticas transformadoras; em realidade concreta recheada de amorosidade, de Justiça Popular, de vida plena e abundante, de libertação de dogmas, de regras piramidais, enfim, de uma saúde – “direito de Todxs e dever do Estado”.

 

A hora é agora! Democracia exige atitude: eleger o SUS nosso plano de Saúde!

 

Assim é possível celebrar um Ano Novo!

 

Falares de Casa

A Religião da Grande Deusa. Raízes históricas e sementes filosóficas. QUINTINO, Cláudio Crow. Editora Gaia. SP. 2000

Epidemiologia Crítica e a Saúde dos Povos. Ciência ética e corajosa em uma civilização doentia. BREILH, Jaime. Hucitec Editora. SP. 2024.

Inédito Viável – “Tem a ver com a força de reinvenção da sociedade e da vida, que se movimenta inexoravelmente para o ser mais, apesar de todas as formas de opressão”. Educação popular, movimentos sociais e formação de professores. (os 50 anos do golpe militar e a mobilização de inéditos viáveis no campo social e educativo). 1a edição. Outras Expressões. SP. 2015

Pajé Jurismar – Indígena Sateré-Mawé. Município de Barreirinha/ Am.

 

Fátima Guedes*

Maria de Fátima Guedes Araújo. Caboca das terras baixas da Amazônia. Educadora popular, pesquisadora de saberes popular/tradicionais da Amazônia. Licenciada em Letras pela UERJ (Projeto Rondon/1998). Com Especialização em Estudos Latino-americanos pela Escola Nacional Florestan Fernandes/ UFJF. Fundadora da Associação de Mulheres de Parintins, da Articulação Parintins Cidadã, da TEIA de Educação Ambiental e Interação em Agrofloresta. Militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde (ANEPS). Autora das obras, Ensaios de Rebeldia, Algemas Silenciadas, Vestígios de Curandage e Organizadora do Dicionário - Falares Cabocos.