
Meu sonho sempre foi ter um quadro pintado pelas mãos do Seu Jair. Queria uma imagem da nossa rua, a João Meireles, onde, na calçada do Seu Antônio, ficavam três cadeiras. Uma era do meu pai Fernando Butel, outra do Seu Gilberto Rabelo, ambos falecidos, e a terceira do Seu Antônio, que segue fielmente a missão de acompanhar a rotina no final da tarde em nosso amado Bairro da Francesa
Desejava que essa pintura fosse feita pelo Seu Jair porque ele também fazia parte desse cenário, e a imagem registrada tinha /tem tanto significado que não poderia ser feita por outra pessoa, a não ser o Mestre Jair, que volta e meia parava para conversar com os velhos amigos, e eu achava linda aquela amizade de décadas.
Seu Jair era uma verdadeira celebridade em nosso bairro, charmoso, bem-humorado, brincalhão. Achávamos o máximo vê-lo sendo tietado na época do Festival em sua residência.
A imprensa do mundo inteiro queria conhecer a história do grande Mestre, do homem que revolucionou o Festival de Parintins e contribuiu para que se tornasse a maior festa popular do mundo. O bom disso tudo era que, quando o Festival passava, ele voltava a ser inteiramente nosso.
O Mestre voltava a ser nosso querido vizinho Seu Jair, a pessoa mais doce e espirituosa que conhecíamos e tínhamos a atenção dele toda para nós. Tenho lembranças inesquecíveis… e alguns fios de cabelo branco de preocupação rsrsrs.
Na época da enchente, a rua que dá acesso à Feira do Bagaço ficava completamente alagada, e era necessário construir a ponte. E adivinhem? Seu Jair adorava atravessá-la sozinho, super independente, não gostava de ser tratado como idoso rsrsrs e eu morria de medo de que ele caísse. Aí, eu ligava para a Nira ou ia lá avisar que nosso teimosinho já estava a caminho da feira para fazer suas compras.
Ele adorava passear, ir à feira, parar na oficina Butel, tirar onda com o Langa, sorrir para todos nós… Cada encontro era um abraço apertado, um afeto sincero, um carinho de quem sempre foi como um pai para muitos.
Temos tanto orgulho de ter compartilhado décadas ao lado dele. Orgulho de termos conhecido Dona Ana, de termos convivido com seus filhos Nira, Teco, Jairzinho, Jean, Jeane e Bebeto, de termos feito parte de momentos únicos em suas vidas. Nossa infância e juventude foi tão abençoada. Somos uma geração privilegiada.
Que honra ter conhecido Seu Jair, poder abraçá-lo, tietá-lo! Eu tinha uma alegria imensa em dizer: "Eu o conheço, sou vizinha dele." E quando alguém queria conhecê-lo, logo respondia: "Ah, quer vê-lo? Vamos lá!"
Certa vez, tirei uma foto dele de costas andando na ponte. Queria eternizá-la também em em uma tela, mas perdi a imagem e não foi possível. No entanto, a figura do Seu Jair permanece viva em minha memória e em meu coração.
Eu poderia escrever por horas sobre as aventuras que vivemos ao lado do nosso amado vizinho, mas vou encerrar por aqui… As lágrimas já começaram a escorrer.
Querida Nira, tenho profunda admiração por você. Querida Jeane Mendes seu pai foi um verdadeiro acontecimento - que privilégio minha mana. Teco, Jairzinho, Jean e Bebeto, recebam meu abraço e meu carinho. Aos sobrinhos, netos, noras, genros, amigos e a toda a família, desejo força e coragem.
Minha singela homenagem ao Mestre Jair Mendes, vizinho amado, amigo querido.
Por Cris Butel