Universidade dos Comuns

“Evoluo ao me envolver com cada criatura deste chão”. (Paulo Prudente Pradiip)

Universidade dos Comuns Sobre folhas que ornamentavam o chão pude sentir a vibração dos elementais trazendo-me luz, força, amorosidade e paz... Foto: Floriano Lins Notícia do dia 26/06/2025

Em meio a clamores mês de junho se despede. No auge de meu amadurecimento ativo iluminações ancestrais e, nessas intersecções, acolho, reconheço as influências astrais e elejo a natureza assim como os respectivos elementais instrumentos educativos incontestáveis: mestres e doutores da vida em plenitude. É pertinente afirmar: teorias e conhecimentos ditos científicos são resultantes de observações milenares e de relações prelúdias.

 

No atual contexto linguístico, universidade é concebida exclusivamente como instituição de ensino superior. Em princípio, ‘uni’ indica unidade ou totalidade; o sufixo ‘dade’, estado ou qualidade. O radical ‘univers’ deriva de ‘universus’: ‘todo’ ou ‘inteiro’, ‘completo’, ‘total’. Se mergulhamos na essência contextual há perceptíveis e visíveis desencontros entre o sistematicamente determinado, o que está posto e a matriz originária do conceito.

 

Enfim, a problematização em referência brotara na manhãzinha do Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho). Era cedinho. O céu aquarelado de neblinas e fluxos solares acolhia a data apontando recados urgentes de alcance universal. Saí da rede e fui absorver bênçãos e sabedorias em nosso quintal urbano, a agrofloresta onde elegemos Território Sagrado - o Cóio das Utopias*.

 

Naquela ímpar manhã, a sinfonia dos pássaros, o doce aroma das flores dos cafeeiros, o sopro do vento sobre as folhagens, as gotículas de orvalho acarinhando a pele amenizavam o estresse resultante das violações de cuidados naturais; da negação de princípios originários sobre preservação e conservação de biomas, de culturas nativas, de agressões incontroláveis... Tudo me chegava como convite para sentir e usufruir teorias epistêmicas emitidas do ventre da Mãe Terra: certamente um acorde para reinvenção de novos tempos comunitários.

 

Por algumas horas, deitei sobre as folhas que ornamentavam o chão e pude sentir a vibração dos elementais trazendo-me luz, força, amorosidade e paz... Nesse intercâmbio visualizei uma casinha de “cabas” há uns 3 metros acima. Minha presença as incomodou e comunitariamente se armaram em busca de autoproteção.

 

Silenciei observando os movimentos... A casinha ficou totalmente protegida. Verdadeira tropa de choque. Ali visualizei uma legítima evolução; o real sentido de comunidade - unidade dos comuns: um universo de sabedoria solidária agindo em defesa da vida e do direito de existir a qualquer agressão; o ataque coletivo era fatalidade...

 

Absorvi cada lição. Acolhi aquele momento místico como uma aula sobre o real sentido dos conceitos Comunidade: unidade dos comuns e Universidade: sabedoria universal de sustentabilidade - a empática evolução entre os diversos...

 

Na contramão do místico cenário, boiam em meus pensamentos anúncios e propagandas midiáticas sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente cujas divulgações conflitavam com os ensinamentos recém-absorvidos no espaço agroecológico. Ao mesmo tempo em que contradiziam princípios anunciados na primeira Conferência da ONU, (1972): “ciar uma postura crítica e ativa em relação aos problemas ambientais no planeta”.

 

Incomodada, adentrei no real-concreto amazônico: posturas críticas interventivas sobre problemas ambientais se perdem no ar, assim como coerência aos anúncios da Conferência de 1972. Festas folclóricas fantasiam a realidade; sob toadas e batucadas canta-se e decanta-se preservação, conservação ambiental sem práxis transformadora. Galpões e lixeiras espalhados em periferias denunciam as contradições e, na embriaguez da cultura de massa, artistas e trabalhadorxs desvalidxs são transformados em instrumentos utilitários de politicagem e exploração comercial.

 

Chega!... Decidi retornar ao acalanto do Cóio das Utopias e me reconectar à unidade dos comuns... O sol me aquecia por inteira e trazia a consciência de que os originais mestres e doutores encontram-se na sutileza de sábios ensinamentos da Grande Mãe. Reconheço-Os UNIDOCs*. Portanto, mudanças e transformações (qual sementes) brotam das bases; de territórios adubados de intenções comunitárias, saudáveis, originárias... Enfim, da consciência universal em diálogo pertinente com as insignificâncias significativas do eterno movimento cósmico. Assim é! Assim está feito!

 

Falares de Casa

Cabas – Vespa carniceira.

Cóio das Utopias – Agrofloresta urbana situada no Bairro Tonzinho Saunier, área sul de Parintins/AM, a 369 km de Manaus.

UNIDOCs – Neologismo alegórico aos Doutores Universais

Maria de Fátima Guedes Araújo. Caboca das terras baixas da Amazônia. Educadora popular, pesquisadora de saberes popular/tradicionais da Amazônia. Licenciada em Letras pela UERJ (Projeto Rondon/1998). Com Especialização em Estudos Latino-americanos pela Escola Nacional Florestan Fernandes/UFJF. Fundadora da Associação de Mulheres de Parintins, da Articulação Parintins Cidadã, da TEIA de Educação Ambiental e Interação em Agrofloresta. Militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde (ANEPS). Autora das obras Ensaios de Rebeldia, Algemas Silenciadas, Vestígios de Curandage e Organizadora do Dicionário - Falares Cabocos.