Morte de Soleimani tem potencial para gerar revolta no Irã, Iraque e entre árabes Escritório do Líder Supremo do Irã via EFE-EPA - 1.10.2019
Notícia do dia 03/01/2020
Um ataque realizado pelos Estados Unidos contra um aeroporto de Bagdá, capital do Iraque, na madrugada desta sexta (3, noite de quinta no Brasil) matou o principal comandante militar do Irã e o líder de uma milícia local pró-Teerã.
O governo americano confirmou em comunicado que foi o responsável pelo bombardeio realizado por um drone e que a ação foi autorizada pessoalmente pelo presidente Donald Trump.
A morte do general Qassim Suleimani foi inicialmente anunciada pela TV iraquiana e depois confirmada pelo governo iraniano. Considerado um herói no país, o militar recebeu uma oração em rede nacional como homenagem e foi chamado de mártir.
O ataque deve aumentar ainda mais a tensão entre Teerã e Washington.
O militar liderava há mais de 20 anos a força Quds, braço de elite da Guarda Revolucionária do Irã responsável pelo serviço de inteligência e por conduzir operações militares secretas no exterior.
Por causa de sua posição, ele era considerado o principal chefe militar do país.
O jornal britânico The Guardian o classificava como a segunda pessoa mais poderosa pessoa do Irã, atrás apenas do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, e à frente do presidente Hassan Rowhani.
Próximo de Khamenei, Suleimani era inclusive um dos nomes mais cotados para assumir o comando do país no futuro de acordo com o americano The New York Times —o líder supremo tem 80 anos.
Para Washington, Suleimani era o idealizador da estratégia iraniana de apoiar milícias no Iraque e na Síria contra as tropas americanas. Por isso, o governo dos EUA culpava o general pela morte de até 700 militares do país ao redor no mundo nos últimos anos.
Após a morte do militar ser confirmada, Trump postou em uma rede social a bandeira dos EUA, mas não comentou a ação.
Também morreram no ataque Abu Mahdi al-Muhandis, um dos chefes das Forças de Mobilização Popular (que congrega diferentes milícias iraquianas apoiadas pelo Irã), o porta-voz do grupo, Mohammed Ridha Jabri, e ao menos outras duas pessoas ainda não identificadas, além de diversos feridos.
O comboio onde eles estavam foi atingido por mísseis quando deixava o aeroporto, de acordo com o New York Times.
O Pentágono afirmou que o ataque foi feito para impedir que o Irã realizasse novos ataques contra alvos americanos.
"O general Suleimani estava desenvolvendo planos de atacar diplomatas americanos e militares a serviço no Iraque e em toda a região", disse o comunicado americano. "Esta ação teve como objetivo dissuadir futuros planos de ataques iranianos".
O bombardeio no aeroporto foi feito horas após o secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, ameaçar realizar ataques contra Teerã.
"Se soubermos algo sobre ataques, vamos tomar ações preventivas para proteger as forças americanas, para proteger as vidas americanas. O jogo mudou", afirmou ele nesta quinta (2).
No último dia 24, um funcionário terceirizado do Exército americano foi morto após um ataque contra uma base americana próxima a Kirkuk.
Washington culpou a milícia Kataib Hezbollah (também apoiada pelo Irã) pela ação e no domingo (29) realizou um ataque aéreo em áreas controladas por essa facção no Iraque e na vizinha Síria.
A ação gerou revolta contra o país no Iraque e levou manifestantes e milicianos a atacarem a embaixada dos EUA em Bagdá na terça (31) —o cerco terminou no dia seguinte.
Em uma rede social, o presidente Donald Trump acusou o Irã de orquestrar a invasão e disse que o país seria responsabilizado.
"O Irã matou um segurança privado [terceirizado] americano e feriu outras pessoas. Respondemos com vigor e sempre iremos responder", disse, em referência à ação do último domingo.
"Agora, o Irã está orquestrando um ataque contra a embaixada dos EUA no Iraque. Eles serão responsabilizados. Esperamos que o Iraque use suas forças de segurança para proteger a embaixada", acrescentou Trump na ocasião.
FOLHA DE SÃO PAULO