Seu Gregório tem 76 anos e mais de 50 anos na Ilha
Notícia do dia 08/07/2024
No bairro de Palmares, reside uma das personalidades mais conhecidas na Ilha de Tupinambarana: Seu Gregório Nascimento. Um senhor que, aos 76 anos, se autointitula como “multifuncional”.
Eu o encontrei no dia 30 de maio de 2024, logo após o feriado de Corpus Christi. Precisei de um serviço na chave do meu automóvel e me lembrei de Seu Gregório.
Para minha sorte, o homem está sempre disposto a ajudar, mesmo em dia de ponto facultativo e feriado.
Fui até sua pequena loja e ele prontamente a abriu.
Como sempre, com um sorriso largo e boa conversa, Seu Gregório relatou que estava em plena recuperação de uma cirurgia oftalmológica, ou como diz o povão, “cirurgia de vista”, para melhorar a visão.
Foi aconselhado a utilizar óculos para ajudar a ampliar e descansar os olhos, mas Seu Gregório diz que os óculos atrapalham. “Meu trabalho requer habilidade e as lentes desses óculos não ajudam. Eu os retiro quando vou fazer o serviço”, revelou.
Seu Gregório é realmente multifuncional. Aos 14 anos, ainda em sua cidade natal de Sobral, situada na região Norte do Ceará, a 235 quilômetros de Fortaleza, ele começou a exercer sua primeira e apaixonante profissão: alfaiate.
Sua mãe, Dona Maria dos Reis, foi sua mestra. “Minha mãe me ensinou, Dona Maria. Eu tinha 14 anos e ela começou a me ensinar a costurar, sou alfaiate. Tínhamos uma máquina antiga e fazíamos juntos para ajudar nas despesas de casa”, recordou.
Aos 16 e 17 anos, Seu Gregório fez um curso de barbeiro e, junto com outros cinco amigos, montou um negócio de corte de cabelo.
Segundo ele, foi o período em que mais dinheiro ganhou, com uma média de 4 a 5 salários por mês. “Nossa barbearia era uma das mais completas de Sobral. Atraía muitas pessoas e nós ganhávamos muito bem”, contou.
Mais de 50 anos de Amazonas

O então jovem Gregório recebeu a informação de que no Amazonas poderia ganhar muito dinheiro e mudar de vida. Sem hesitar, embarcou em um navio rumo ao estado e chegou, aos 22 anos de idade, em Manaus.
Ele atuou como vendedor ambulante e camelô, até ser empregado no antigo Hotel Beira Mar, na rua Barão de São Domingos. No entanto, logo teve uma decepção. “No dia do pagamento, o gerente proprietário veio fazer o pagamento. Me entregou o dinheiro. Olhei, contei e imediatamente disse: 'Isso não é para mim. Ganho mais como barbeiro'. Deixei o emprego e nunca mais voltei”, afirmou.
A Ilha de Parintins
Depois de cerca de 8 meses na capital amazonense, Seu Gregório encontrou o senhor Zé Pereira, também conterrâneo de Sobral. Pereira o convidou para desbravar o município de Parintins. “Ele me encontrou em Manaus, sabia que eu era um bom barbeiro, me chamou e aceitei. Estou aqui até hoje”, disse rindo.
Essa Ilha tem vários povos num só povo: nordestinos, judeus, italianos, japoneses, indígenas, alemães, negros, ribeirinhos aportaram por essa paragem.
Em Parintins, Gregório foi armeiro por 18 anos, sendo um profissional habilitado para fazer a manutenção de armas de fogo da PM e PC de toda a região do Baixo Amazonas. Atualmente, para exercer essa atividade, é preciso obter autorização da Polícia Federal.

Antes de armeiro, também trabalhou como pedreiro, carpinteiro, comerciante, pintor, ajudante, entre outras funções.
“Você precisa se reinventar, nunca parar. Como comerciante, eu quebrei, mas depois ergui a cabeça e continuei trabalhando. É importante não parar”, disse.
Seu Gregório é casado com Dona Júlia de Oliveira Nascimento, de quem se orgulha bastante. Ele conta que sua parceira de vida é natural do município de Juruti, no estado do Pará. Unidos no amor, respeito e trabalho, criam filhos e netos.
Aposentadoria dos serviços nem pensar. Não tem isso no vocabulário dele.
Ainda atuando como alfaiate, profissão que aprendeu com sua mãe, ele comentou: “Gosto de fazer o serviço de alfaiate, mas sempre busquei qualidade nos cortes. Porém, as pessoas queriam pagar muito barato pelo serviço, o que me rendia pouco. Por isso, decidi parar de vez”.
Há mais de 10 anos, Seu Gregório se tornou chaveiro. Como um grande profissional, ele fabrica chaves, faz cópias, troca segredos e realiza a manutenção de fechaduras. Em sua loja, vende equipamentos de segurança, como cadeados, fechaduras eletrônicas e outros sistemas.
Questionado sobre o conselho para aqueles que precisam ganhar a vida, ele afirmou que os jovens devem aprender mais e trabalhar. “Todo mundo quer uma vida fácil, mas não há vida fácil. É preciso trabalhar e não parar”, disse.

Que a determinação de Seu Gregório em crescer e nunca desistir possa inspirar aqueles que desejam se tornar profissionais ou multifuncionais, como ele!
Texto e Fotos: Hudson Lima
(92) 991542015