Toada Missionário da Luz do Caprichoso, o juiz Afrânio Gonçalves e a genialidade de Chico da Silva

Seu Waldir Martins Viana, nascido em 1910, era filho de Domingos Viana e Maria Martins Viana. Ele faleceu em junho de 2005, aos 95 anos, e foi um dos mais conhecidos curadores populares de Parintins. Morador do Parananema, onde a família construiu a Igreja de São Benedito.

Toada Missionário da Luz do Caprichoso, o juiz Afrânio Gonçalves e a genialidade de Chico da Silva Foto:Pequeno Hugo Kailã admirado com a pintura do Boi Caprichoso na Calçada da Fama (Foto de Hudson Lima) Notícia do dia 26/01/2025

Um dos redutos de maior tradição do Caprichoso em Parintins, sem dúvida, é a confraria Calçada da Fama, comandada pelos sócios Delson Ramos, dos Correios, e Zenilson, o Zé do Vasco. Localizada na antiga rua Rio Branco, ou Senador José Esteves, no bairro de Palmares, na confraria Calçada da Fama fala-se de tudo sobre Parintins: política, boi, toadas, mulheres, dominó, chifres e histórias verdadeiras sobre futebol e o Festival de Parintins.

 

No domingo, 19 de janeiro de 2025, fui tomar uma bem gelada por aquelas bandas. Como torcedor e sócio do Garantido, sempre fui bem recebido na Calçada da Fama. Mas é melhor ir aos domingos, porque no sábado, como religião, é só a turma azulada ou de camisas azuis que toma conta.

 

 

Entre um gole e outro, apareceu o confrade Afrânio Gonçalves, juiz federal aposentado e filho do ex-prefeito Gláucio Bentes Gonçalves, o “Papo Firme”.

Afrânio, com uma memória sem igual, relatou aos presentes como surgiu a toada “Missionário da Luz”, de 1991, que homenageia o parintinense Seu Waldir Viana. A história só foi interrompida, quando de uma ligação do atual presidente do Caprichoso, artista Rossy Amoedo.

 

Seu Waldir Martins Viana, nascido em 1910, era filho de Domingos Viana e Maria Martins Viana. Ele faleceu em junho de 2005, aos 95 anos, e foi um dos mais conhecidos curadores populares de Parintins. Morador do Parananema, onde a família construiu a Igreja de São Benedito.

 

(Hudson Lima e Afrânio Gonçalves)

 

Waldir Viana o Santo Vivo!

 

Voltando à toada “Missionário da Luz”, Afrânio contou que ele, junto com o sócio-torcedor e presidente do Movimento Marujada de Manaus, Rogério de Jesus, o Roca, sempre prestigiavam o compositor, músico e sambista Chico da Silva, parintinense criado por Dona Guajarina Prestes. Certa vez, no começo de 1991, foram até um bar, de nome Amoricana, na Praça 14, centro Manaus assistir ao conterrâneo Chico.

 

Afrânio recorda que, além dele e do Roca, estavam presentes Arlindo Júnior, João do Carmo, o Careca, Zezinho Cardoso, Dodôzinho Carvalho e outros torcedores. “Chegando lá, percebemos muita gente de vermelho. Era a turma do Garantido: Roseani Novo, Paulinho Faria, a galera do Zezinho Faria… Pensei: rapaz, tem algo esquisito.”

 

Chico entrou, tocou umas músicas e, em seguida, deu o tradicional "boa noite" e anunciou que estava lançando uma nova toada para o Garantido. “Quando ele começou com ‘Minha Santa, Paz e Amor, Nossa Senhora...’, foi um Deus nos acuda. Não tinha como não ficar emocionado. Primeiro, porque éramos todos de Parintins, com criação muito ligada às histórias católicas. Nossa Senhora é a nossa padroeira. Foi emoção e tensão juntas”, diz Afrânio.

 

Putos da vida com Chico da Silva, em forma de protesto, a turma do Caprichoso abandonou o bar e foi tomar cerveja do outro lado da rua. “Frescavam muito comigo e com o Roca, porque a gente estava sempre com o Chico. Estavam bravos mesmo.”

 

Depois de muito lamento, Afrânio e Roca sugeriram encomendar uma toada ao próprio Chico da Silva. “Todo mundo puto, ninguém, lógico, concordou. Mas, depois de muita conversa, aceitaram. No outro dia, fomos procurar o Chico. Eu, Roca, Arlindo Júnior, Dodôzinho Carvalho e outros. Encontramos ele se embalando na rede. Falei: ‘Ô, Chico, temos de fazer uma toada para contrapor essa tua nova.’ O Chico disse que tudo bem, sou profissional e mostrou umas duas ou três ideias, mas nenhuma chegava aos pés da toada de Nossa Senhora”, afirma.

 

Então, Afrânio retomou uma ideia que já tinha discutido com o grupo semanas antes: era preciso inovar e homenagear alguém vivo, um santo, mas vivo. Assim, propôs fazer uma homenagem ao Seu Waldir Viana. “O Chico parou por alguns instantes, ficou meio surpreso e, logo em seguida, disse que gostou da ideia. Afinal, era um santo vivo, do meio da gente e parintinense. Ele mesmo sabia da força do Seu Waldir. O trabalho e tudo do seu Waldir de ajudar, cuidar e tratar todos de bom coração. Na mesma noite fez a toada Missionário da Luz. Pediu alguns dias, fazer os ajustes e assim fez". 

 

A fita cassete

 

Segundo Afrânio, na manhã do dia seguinte, recebeu um recado do jornalista e parintinense Marcos Santos, que na época era secretário de comunicação do ex-prefeito Arthur Neto, na sua primeira gestao etre 1989 e 1992.

 

“O Marcos me disse por telefone: ‘Passa aqui no meu trabalho’, que era ali no centro de Manaus, no Centro Histórico que antes ficada a antiga prefeitura e demais logradouros publicos. ‘O Chico deixou uma gravação numa fita cassete para tu escutares. É uma toada, eu já ouvi e gostei.’ Fui até o local combinado, peguei o gravador e coloquei a fita para rodar. Quando escutei ‘É abençoada a mão que cura... Boi Caprichoso mandou fazer pro Waldir a toada’, foi uma emoção sem igual. A gente sabia que seria sucesso, como é até hoje”, diz Afrânio.

 

(Seo Waldir Viana realizando tratamento de paciente)

 

Rabisquei essa história sensacional sobre a toada “Missionário da Luz” para reafirmar a genialidade de Chico da Silva e relatar a importância social e cultural do Seu Waldir Viana. Faz bem demais lembrar disso.

 

 

Bom nas fotos está eu, o Alcieny, irmão do eterno padrinho do Caprichoso Acinelson Vieira, Zé Vascaíno, Delson, Nelson Campos, Maria Rosa (contraria) e outros confrades ‘calçadeiros’. Mas cedo, também levei meu filho, Hugo Kailã (na foto de capa deste texto), para visitar a Calçada. Na outra foto está eu e o juiz Afrânio Gonçalves.

Vivas seo Waldir Viana!!

 

Texto: Hudson Lima
Jornalista DRT 001658-AM