
A condenação do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado repercutiu em todo o Brasil. Em Parintins, a jovem Clara Mourão, filha do professor e analista de sistema Holderlan de Souza Mourão, vítima da Covid-19 em 2021, desabafou emocionada após a decisão do Supremo Tribunal Federal.
Além de Holderlan, a família também perdeu outros quatro parentes durante a pandemia: Auxiliadora, Natália, Ricardo e Zely.
O desabafo de clara
Clara, que tinha apenas 15 anos quando perdeu o pai, afirmou que a condenação traz algum alívio diante de tantos anos de dor. “Fico profundamente emocionada em ver que a justiça, ainda que tardia, está sendo feita. Foram muitas famílias destruídas pela culpa dele, e a minha foi uma delas. Durante todos esses anos, carreguei a dor irreparável da partida precoce do meu pai, uma ausência que jamais será preenchida. Sofri e continuo sofrendo com essa perda, mas hoje sinto um alívio em saber que, finalmente, o responsável por tanta dor e destruição foi condenado.”
Ela também relembrou os momentos mais cruéis da pandemia e a postura de Bolsonaro. “É impossível não lembrar da pandemia, um dos períodos mais dolorosos e cruéis da nossa história. Bolsonaro tratou a vida humana com desprezo, debochou da dor das famílias, atrasou a vacinação e espalhou desinformação enquanto milhares de brasileiros morriam todos os dias. Meu pai foi uma das vítimas desse descaso, assim como tantos outros que poderiam estar vivos se houvesse responsabilidade, empatia e compromisso com o povo.”
Por fim, Clara destacou que a memória do pai e de outras vítimas deve ser lembrada pela luta por justiça "Bolsonaro governou com indiferença, alimentando o ódio e a divisão, e nunca representou todos os brasileiros. Sua política foi marcada pelo negacionismo, pela destruição e pelo abandono. Ele não foi um líder! Foi um peso que custou vidas, sonhos e futuros. Hoje, ao ver a justiça sendo feita, sinto que cada lágrima derramada carrega também a força de cobrar responsabilidade. Meu pai, assim como tantas outras vítimas, merece ser lembrado não pela dor da perda, mas pela luta por verdade e justiça.”
A dor da viúva
A professora Sandra Colares Mourão, casada com Holderlan por 17 anos, também se manifestou:
“Hoje, 11 de setembro, completa 4 anos e 7 meses que meu amado Holder Mourão perdeu a vida em uma pandemia que poderia ter tido um desfecho diferente se não fosse a barbárie que o genocida, que hoje foi condenado, orquestrou. Sim, ele orquestrou, ele debochou, ele espalhou desinformação. Hoje, sinto um leve conforto por esse resultado, mas nada e nenhuma condenação vai trazer de volta todas as vidas ceifadas do nosso Brasil. Nada trará a alegria, nada diminuirá a nossa dor pela falta, pela saudade... Meus filhos choram até hoje e chorarão para sempre a falta do pai, e isso sangra todos os dias o meu coração.”
A indignação do sogro
Mais duro em suas palavras, o mestre de obras José Colares, pai de Sandra e sogro de Holderlan, desabafou sobre as múltiplas perdas. “Quero que Bolsonaro apodreça na cadeia. Na minha família, cinco perderam a vida durante a pandemia da Covid-19, enquanto ele zombava das pessoas em lives e falas. Meu genro Holder, minha cunhada Auxiliadora, minha sobrinha Natália, meu irmão Ricardo, minha sobrinha de apadrinhamento Zely. Foram muitas perdas somente na minha família. Quero que esse desgraçado do Bolsonaro apodreça na cadeia.”
Bolsonaro condenado por tentativa de golpe
No dia 11 de setembro de 2025, o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão em regime fechado. Ele foi considerado culpado por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada e dano ao patrimônio da União.
A decisão foi tomada pela Primeira Turma do STF, com quatro votos pela condenação e apenas um pela absolvição. Além da prisão, Bolsonaro recebeu multa de 124 dias-multa. A defesa classificou a sentença como “desproporcional” e anunciou que vai recorrer.
O caso entrou para a história como a primeira condenação de um ex-presidente brasileiro por tentativa de golpe de Estado.
Memórias em Parintins
A pandemia da Covid-19 deixou marcas profundas em Parintins, onde mais de 350 pessoas perderam a vida. Entre elas, nomes marcantes dos bois Caprichoso e Garantido, como Paulinho Faria, ex-apresentador do Garantido, e Júnior de Souza, que atuou em ambas as agremiações, além do ex-prefeito e radialista Enéas Gonçalves.
A dor também atingiu famílias inteiras. A família Almada perdeu a matriarca Jandira, 95 anos, além de cinco de seus 22 filhos – Heloísa (79), Heider Augusto (76), Eduardo Jorge (67), Gilberto (61) e Zomar (56) – a neta Tereza Cristina (40) e o genro Eduardo Gomes (57). Já na família Almeida, quatro pessoas morreram vítimas da doença.
Essas histórias reforçam que, além da política, a pandemia ceifou vidas, sonhos e memórias que jamais serão esquecidos.