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Notícia do dia 16/03/2025
Ele faz parte das lembranças mais fortes da minha infância. Quando criança o simples fato de pedir a sua benção se tornou um grande ritual. Eu não entendia como aquele homem sem traços orientais poderia ser irmão da minha mãe e por essa razão eu sempre batia o pé antes de formalizar o pedido. Peguei muito ralho da Vovó Dedé por conta dessa birra, mas foi o próprio tio Jair que resolveu a questão. O acordo era simples, a cada pedido de benção ganharia como recompensa pelo feito uma nota de um cruzeiro e assim foi feito. Recordo que cheguei a ganhar alguns cruzeiros até entender que de fato ele era parte da nossa família, nossos laços não eram de sangue, eram de amor. Tive a oportunidade de crescer sendo uma espécie de cobaia de seus projetos. Por anos vi o Boi Garantido sendo idealizado e construído lá no Cine Oriental, o cinema da Vovó Dedé. Pelo meu tamanho fui de grande serventia durante os testes para os primeiros movimentos do Boi. Conhecia todas as engenhocas que faziam o rabo mexer, o pescoço dobrar, o talco sair pelas narinas ou a boca abrir. Eram os primeiros movimentos do Boi biônico. Engraçado como as lembranças se tornam tão vívidas nos momentos de despedida. Sou privilegiada por ter essas histórias para contar, mas sobremaneira, por ter vivido momentos tão marcantes e felizes que cunharam em mim o amor por essa brincadeira que é a representação da minha família, uma história de amor que perpassa por gerações. Ao grande Mestre Jair Mendes, meu Tio, minha gratidão por ter participado de forma tão significativa das melhores memórias da minha infância. Que hoje sejas recebido na morada do Pai com todas as honras e o abraço amoroso e acolhedor do Vovô Kimura, da Vovó Dedé, do Tio Alberto, da Tia Aldair, da Tia Alméria, da mamãe (Aldemira) e do Lucinho. Em honra ao senhor e ao seu legado meu luto veste vermelho. Bença, tio!
Por Aldemara Kimura