
Neste mês de setembro de 2025, tive o privilégio de reencontrar a professora Raimunda Ribeiro da Silva, primeira diretora-gerente do Sistema Alvorada de Comunicação, da Rádio Alvorada, pertencente à Diocese. Por quase 50 anos, dona Raimunda exerceu sua vocação em prol da comunicação. Assumiu a emissora ainda em 1967, quando era apenas um projeto piloto, numa missão dada pelo primeiro bispo da Ilha Tupinambarana, Dom Arcangelo Cerqua. Ela, neste dia 9 de setembro, completa 88 anos de idade. Que maravilha.
Pelas mãos de dona Raimunda, quase uma dezena de gerações de comunicadores passou pela emissora. Alguns se tornaram profissionais até a aposentadoria, outros seguiram seus caminhos e hoje são repórteres, jornalistas e donos de portais em Parintins, Manaus e em tantos rincões do Amazonas.
Apesar de ser uma emissora ligada à Igreja Católica, pude testemunhar, na minha passagem pela Rádio Alvorada, que dona Raimunda dava oportunidade a todos: católicos, protestantes, ateus, pândegos ou missionários. Talvez tenha sido justamente essa visão que fez da Rádio Alvorada, numa época sem internet, mídias digitais e redes sociais, uma emissora imbatível perante as concorrentes. Mesmo nos tempos modernos, dona Raimunda manteve-se atualizada.
Ingressei na emissora como entregador do jornal impresso Novo Horizonte, que circulava uma vez por semana, para ajudar minha irmã Valcilete Lima. O semanário fazia parte do Sistema Alvorada e era dirigido pelo padre Henrique Uggê e pelo padre Sossio Pezzella (de saudosa memória).
Depois, fui um pouco de tudo na emissora: operador de áudio, sonoplasta, locutor, carregador de cabos — algo difícil de imaginar para a nova geração. Mas, na época, sem energia e cabos não havia transmissão. Também fui apresentador esportivo, repórter de rádio e TV.
Todas essas oportunidades foram concedidas por dona Raimunda Ribeiro da Silva, que, apesar de sua rigidez, sempre tratou todos como filhos e filhas. Ela observava e, se a pessoa demonstrasse vontade de crescer dentro da emissora, abria caminho.
Sem dúvida, é a mulher mais importante da comunicação no interior do Amazonas.
De mãos firmes, presenciei dona Raimunda travar embates duros com ex-prefeitos, ex-presidentes de Câmara e até com bispos Diocese, como Dom Giuliano.
Na maioria das vezes, os enfrentamentos eram para proteger a emissora ou algum funcionário, a quem tratava como parte da família.
É fácil imaginar o quanto de preconceito ela sofreu ao longo das décadas à frente da rádio, pelo simples fato de ser mulher.
Dona Raimunda sempre dizia que aprendeu com sua mãe, dona Antônia Ribeiro, desde cedo, o valor da proteção e do trabalho sério. Relatava que, junto com a mãe e as irmãs Norma, Antônia e Vilma, começava de madrugada a colher frutas e castanhas, fazia o beneficiamento e depois comercializava. Tudo carregando fardos nas costas, para garantir os estudos e conquistar uma vida melhor.
Professora dedicada, fez do rádio também uma ferramenta de ensino.
Ela sempre foi não apenas administradora, mas uma mãe, tia, psicóloga e conselheira, sem jamais perder sua devoção à Igreja Católica e à Nossa Senhora do Carmo. Todos os dias estava na missa e, depois, seguia para a Rádio Alvorada. Espero que a Diocese, agora na gestão de Dom José Albuquerque de Araújo, esteja dando a assistência necessária que dona Raimunda merece.
Foi uma satisfação reencontrar essa mulher ícone, personificação da força e da resistência. Mesmo com mais de oitenta anos de idade, dona Raimunda mantém no olhar a esperança em nossa Parintins!
Texto: Hudson Lima
Jornalista DRT 001658-AM
*Atuou no Sistema Alvorada de 17 de março de 1997 até 30 de novembro de 2010*