Terreiro de Oxalá realiza primeiro casamento umbandista da história de Parintins

Terreiro de Oxalá realiza primeiro casamento umbandista da história de Parintins Fotos: Divulgação Notícia do dia 31/12/2025

Parintins viveu um momento histórico no último 27 de dezembro de 2025, com a realização do primeiro casamento celebrado no rito da Umbanda no município. A cerimônia uniu Wallace Brito e Lucirene Paulain Aranha, em um ato religioso marcado pela fé, espiritualidade e valorização da diversidade cultural, realizado em uma chácara na comunidade Aninga, na zona rural da Ilha.

 

A celebração foi conduzida pela sacerdotisa Mãe Rosa Lacerda, dirigente do Terreiro de Oxalá, localizado na Estrada Macurani, nº 700, no bairro Dejard Vieira. Diante de familiares, amigos, padrinhos e da comunidade religiosa, o casal oficializou a união em um ritual que reafirma o compromisso com Deus, com a família e com a espiritualidade.

 

 

Rito religioso e fundamentos espirituais

 

Ao explicar a condução da cerimônia, Mãe Rosa Lacerda destacou ao site KOIOTE.COM.BR, que o casamento na Umbanda segue fundamentos semelhantes aos ritos cristãos tradicionais, sempre centrado em Deus e na união familiar.

 

Ela explicou o rito a partir de três pontos centrais: Casamento como projeto divino. Segundo Mãe Rosa, a cerimônia inicia-se em Deus, pois a família é um projeto divino. O ritual incluiu a bênção das alianças e o compromisso público dos noivos diante da comunidade, das famílias e das testemunhas. "Estrutura semelhante aos ritos cristãos".

 

 

A sacerdotisa ressaltou que o casamento seguiu etapas semelhantes às celebrações católicas e evangélicas, com perguntas aos noivos, homilia religiosa e participação dos padrinhos, sendo a principal diferença a condução por uma sacerdotisa da Umbanda.

 

União espiritual na Umbanda

 

Mãe Rosa explicou ainda que, embora o casal tenha sido batizado na Igreja Católica, o que, segundo ela, não retira o valor do batismo em Cristo, ambos também passaram pelo batismo na Umbanda, fortalecendo a união espiritual dentro da religião escolhida. “Todo o rito foi feito em nome de Deus”, afirmou.

 

Um marco de fé, cultura e diversidade religiosa

 

O casamento também ganha relevância quando analisado à luz dos dados oficiais. Segundo o Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as religiões de matriz africana ainda representam uma parcela pequena, porém significativa, da população de Parintins. Os dados apontam que Umbanda e Candomblé somam 0,23% dos moradores do município. Já o grupo classificado como outras religiosidades corresponde a 1,07%, enquanto 2,54% da população declarou não possuir religião.

 

 

Nesse contexto, a realização do primeiro casamento umbandista em Parintins ganha ainda mais simbolismo, ao representar visibilidade, reconhecimento e respeito às expressões religiosas afro-brasileiras, historicamente marcadas por preconceito e invisibilidade social.

 

Um marco para o Terreiro de Oxalá

 

Mãe Rosa Lacerda ressaltou o significado do momento tanto para o casal quanto para a história do Terreiro de Oxalá.

 

“Foi uma honra para mim celebrar o sacramento sagrado do matrimônio entre esses dois filhos da casa. Que Deus possa ajudá-los nessa linda promessa de união e que o amor continue sendo o guia desta caminhada deles”, destacou.

 

 

A sacerdotisa lembrou ainda que o Terreiro de Oxalá funciona na Ilha de Parintins desde 1996, oferecendo atendimento espiritual à comunidade. Os atendimentos ao público ocorrem de segunda a sexta-feira, das 14h às 18h30, e aos sábados são realizadas as sessões mediúnicas, com o tradicional toque de tambor.

 

Respeito religioso e valorização cultural

 

Este foi o primeiro casamento celebrado oficialmente pelo Terreiro de Oxalá, consolidando um marco simbólico para a Umbanda no município. A cerimônia contou com a presença de familiares e amigos do casal, que testemunharam um momento de fé, amor e respeito à diversidade religiosa.

 

Mais do que uma união matrimonial, o casamento de Wallace Brito e Lucirene Paulain Aranha representa um passo importante na valorização das religiões de matriz africana, no fortalecimento do diálogo inter-religioso e no reconhecimento do direito constitucional à livre manifestação da fé em Parintins.

 

 

Texto: Hudson Lima (92) 991542015